Foi com uma simples queda da própria altura dentro de casa que Ubiragibe Ribeiro, 88, sofreu uma fratura da 12ª vértebra torácica e ficou cerca de 12 dias em internação hospitalar. Casos como esse são relatos comuns entre a população idosa. De acordo com dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, a estimativa é que cerca de 40% dos idosos com 80 anos ou mais sofram de quedas todos os anos. Durante o período de uma idade mais avançada, pequenas atividades que parecem simples durante a vida adulta podem significar um grande perigo e trazer consequências danosas. Com esses altos índices, os especialistas alertam para cuidados.

Ângela Costa, médica geriatra, explica que as quedas entre idosos acontecem por múltiplos fatores, desde fraqueza muscular, doenças crônicas, até o uso de medicamentos de caráter sedativo que podem causar tonturas, sonolência e queda de pressão. “O idoso se torna mais frágil pela existência de uma perda muscular no processo de envelhecimento. O próprio comprometimento cognitivo pode levar a uma diminuição da percepção do risco e a falta de coordenação”, afirma.

A sarcopenia é um dos transtornos progressivos que podem afetar fortemente perda de massa, força e função muscular. Ela é considerada primária ou relacionada à idade quando nenhuma outra causa específica é evidenciada. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a prevalência da sarcopenia atinge de 5% a 13% idosos entre 60 e 70 anos, e 11% a 50% naqueles com 80 anos ou mais.

Nesse processo de envelhecimento, toda e qualquer diminuição da capacidade funcional do idoso apresenta sinais que devem ser considerados com cuidado pela família. “Se você percebe que aquele idoso tem uma caminhada instável, se ele arrasta os pés quando anda, se ele tropeça muito, se ele reclama muito de episódios de tontura quando se levanta, quando ele tem perdas súbitas de equilíbrio é preciso ficar alerta”, explica Ângela Costa.

Ao contrário do que se imagina para a idade, Ubiragibe sempre se apresentou como um idoso bastante ativo. Subia escadas, fazia caminhadas pelo condomínio e saia para resolver assuntos pessoais sozinho. A queda, em agosto deste ano, foi repentina. “Eu não lembro de muita coisa. Quando eu cai, cai sem consciência. Só lembro de quando eu acordei no hospital”, relata. Com ele, moram a esposa e a filha, que rapidamente acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

No Hospital, Ubiragibe foi acompanhado por um Ortopedista e também precisou de um Neurologista. Ainda durante o período de internação, ele pôde aproveitar de pequenos exercícios de fisioterapia, e retornou para a residência com a recomendação de utilizar um andador devido aos novos cuidados necessários. Posteriormente, Ubiragibe descobriu alterações nas taxas que podem ter contribuído para a queda.

Por sorte e graças ao atendimento rápido, Seu Bira não teve um diagnóstico severo. Já para outros idosos, esse nem sempre é o cenário. “As consequências de uma queda podem ser simplesmente desde um trauma contuso a fraturas, podendo evoluir para até para uma imobilidade temporária. Ele vai perder a independência, ficando acamado de forma prolongada, se torna uma recuperação mais lenta, podendo aumentar o risco de outras complicações”, afirma a geriatra Ângela Costa.

Por isso se manter ativo não é algo que deve ser dispensado com o passar dos anos e sim fortalecido, mesmo após uma queda. “ Associada ao quadro de imobilidade e ficar restrito ao leito, podem desencadear casos de trombose venosa profunda, lesões por pressão, e também a um declínio psicológico e emocional no medo de cair novamente, ansiedade, depressão e a perda da confiança”, explica.

Depois do acidente há menos de dois meses, Ubiragibe precisou diminuir as saídas para preservar a saúde e as partes do corpo afetadas, mas não vê a hora de conseguir retomar a rotina normal. Dentro de casa, uma série de medidas preventivas foram tomadas para evitar um novo incidente, como o uso do calçado adequado, evitando “sandálias de dedo”, e sempre atento a iluminação e ao piso.

“Fora do ambiente doméstico também temos que ter cuidado sim, principalmente com superfícies que são irregulares, escorregadias, calçadas com piso desnivelado, escadas e rampas. É importante ter cuidado com questões relacionadas ao trânsito, como o cruzamento das ruas, subir e descer de ônibus ou trem, além de multidões e áreas movimentadas”, esclarece a geriatra Ângela Costa.

Para que o envelhecimento seja um processo altamente monitorado, a fisioterapia é um dos pilares essenciais para implementação na rotina do idoso. De acordo com Luciana Santiago, fisioterapeuta com mais de 15 anos de experiência no cuidado do idoso, a especialidade desempenha um papel fundamental na recuperação física e funcional.

“A Fisioterapia Preventiva é uma abordagem muito usada em idosos na prevenção de quedas, visando manter ou melhorar aspectos funcionais que incapacitam o indivíduo com o passar dos anos, como a diminuição da força, flexibilidade, alterações de equilíbrio, marcha e coordenação”, explica Luciana Santiago.

Ubiragibe iniciou a fisioterapia somente após a queda. Hoje na 6ª sessão com acompanhamento de Luciana e respondendo bem ao tratamento, ele já deixou o andador e foi liberado para o uso apenas da bengala para as atividades que precisa realizar em pé. “Me senti muito melhor depois que comecei a fisioterapia e ela [a fisioterapeuta] também é muito atenciosa”, avalia.

Luciana afirma que o tratamento fisioterapêutico é individualizado a partir de uma conduta de que deve abranger o controle da dor, fortalecimento muscular, treino de equilíbrio, marcha e coordenação, restaurando as funções afetadas decorrentes da queda. “Atendimentos no ambiente doméstico sempre ajudam a deixar o idoso mais à vontade, e com isso conseguimos ir evoluindo para novos espaços à medida que o paciente também evolui”, considera.

De acordo com Ângela Costa, médica geriatra, pequenas mudanças no dia a dia são determinantes para que os episódios de queda sejam evitados. O uso de calçados antiderrapantes é algo que deve ser implementado pelo idoso tanto dentro, quanto fora de casa, aliado a outras práticas.

“A prevenção vai desde exercícios físicos regulares de fortalecimento muscular, exercícios de equilíbrio e coordenação, podendo estar associado inclusive à fisioterapia de reabilitação, além de exercícios de alongamento para melhorar a questão de mobilidade e flexibilidade das articulações. Já na ida ao médico, é importante que em toda consulta seja feita uma revisão de medicação”, afirma. Segundo a especialista, quando houver quadro de tontura, sonolência ou diminuição da pressão, é importante que a dose seja ajustada.

No ambiente residencial, a geriatra aproveita para ressaltar a importância de retirar o uso de tapetes, instalar barras de apoio, melhorar a iluminação e organizar os móveis de modo que os movimentos sejam facilitados e evitem uma possível colisão.

“Quem cai aumenta também os custos com saúde, devido à hospitalização, cirurgia e serviços de reabilitação, como fisioterapia. Quando não existe alguém com maior capacidade física, também há a necessidade de contratar um cuidador”, afirma a geriatra Ângela Costa.

Fonte: Tribuna do Norte/Foto: Adriano Abreu