Pagamento impulsiona comércio, impacta orçamento familiar e arrecadação de impostos no Brasil
O pagamento do 13º salário, uma gratificação aguardada por trabalhadores com carteira assinada, aposentados e servidores públicos, representa mais do que um benefício anual. Ele tem papel importante na movimentação da economia, no estímulo ao comércio e no orçamento de milhões de famílias. Com a primeira parcela depositada até o dia 30 de novembro e a segunda até o dia 20 de dezembro, o valor adicional injeta bilhões de reais na economia brasileira justamente nos meses de maior consumo.
Vicente Augusto, professor de economia da Wyden, explica que o pagamento do 13º traz impactos positivos para o comércio e o setor de serviços. “Com esse dinheiro extra em circulação, há um aumento expressivo na demanda por produtos e serviços de fim de ano, desde presentes até viagens e entretenimento. Isso movimenta o varejo e o setor de serviços, criando um ciclo de aquecimento da economia. Inclusive, gera empregos temporários e melhora o cenário econômico em um momento estratégico do ano”, ressalta Vicente, destacando que a gratificação também impulsiona o turismo e o setor de eventos.
O impacto do 13º, no entanto, vai além do setor comercial e atinge diretamente o orçamento das famílias brasileiras. Com o custo de vida e o endividamento em alta, a gratificação natalina ajuda muitos brasileiros a organizar as finanças pessoais, possibilitando desde o pagamento de dívidas acumuladas até a compra de itens que, de outra forma, poderiam ser adiados. “O 13º é uma oportunidade para equilibrar o orçamento familiar. Muitas famílias aproveitam essa gratificação para quitar dívidas ou para antecipar compras importantes, algo que, de outra forma, não caberia no orçamento mensal. Contudo, essa elevação no consumo também exige cautela, pois o endividamento tende a crescer com o acesso mais fácil ao crédito”, alerta Vicente, que enfatiza a importância do planejamento financeiro para evitar problemas futuros.
Para muitos brasileiros, o 13º se destina prioritariamente ao pagamento de dívidas, com a primeira parcela voltada para esse fim, e a segunda direcionada às compras de fim de ano. O professor destaca que o aumento de poder aquisitivo com o 13º também incentiva a demanda por serviços, como reformas residenciais e manutenções, refletindo a maior disposição das famílias em investir em melhorias no lar e em bens anteriormente adquiridos.
Além de seus efeitos no comércio e na economia familiar, o 13º salário traz reflexos significativos para a arrecadação dos governos municipais e estaduais. Com o aumento no consumo, cresce também a arrecadação de impostos, como o ICMS e o ISSQN, que incidem sobre a compra de produtos e serviços. Esse acréscimo na arrecadação é crucial, sobretudo em um ano de arrecadação mais fraca, como foi 2024, onde a dependência de tributos incidentes sobre o consumo se intensifica, complementando a receita dos estados e municípios.
Vicente ainda ressalta a importância do planejamento financeiro, que poderia ajudar famílias a formarem uma reserva financeira e até aproveitar oportunidades de investimento. Entretanto, a falta de educação financeira afeta a maneira como muitos brasileiros utilizam essa gratificação, direcionando-a principalmente para o pagamento de dívidas, como ocorreu em 2022. Além disso, alguns fatores, como o crescimento do endividamento e do uso de serviços de apostas em 2024, acendem um alerta para o superendividamento.