Negros representam 52% dos donos de negócios no país, com destaque para o Rio Grande do Norte, onde o índice chega a 60,5%
No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado na próxima quarta-feira (20/11), o Brasil reflete sobre a luta histórica contra a escravidão e o racismo, enquanto também pode celebrar o crescente protagonismo dos empreendedores negros no país – que já representam mais de 52% do total de donos de negócios brasileiros – um crescimento de 28% entre 2012 e 2023. No Rio Grande do Norte, o percentual da quantidade de empreendedores negro salta para 60,5%. Os dados são do estudo “Empreendedorismo Negro Sob a Ótica da PNAD Contínua”, elaborado pelo Sebrae, com informações do IBGE, que analisou o dados de 2012 a 2023.
Os empreendedores negros (pretos e pardos) já somam mais de 15 milhões, representando 52,4% do total de donos de negócios no Brasil. Essa trajetória de crescimento é significativa, considerando que em 2012 eram 12,2 milhões, houve um aumento de aproximadamente 28% nos últimos anos. Entretanto, os desafios ainda são grandes, especialmente em relação às desigualdades econômicas e ao acesso a recursos.
A análise regional revela que a maior parte dos empreendedores negros está concentrada nas regiões Sudeste (37,7%) e Nordeste (32,7%), ressaltando a necessidade de políticas públicas que considerem as dinâmicas locais.
Além disso, a disparidade de gênero é alarmante: enquanto 67,8% dos donos de negócios negros são homens, apenas 32,2% são mulheres. Esse cenário evidencia a importância de iniciativas que apoiem as mulheres negras empreendedoras, que enfrentam não apenas a desigualdade de gênero, mas também questões raciais.
A educação é um fator crítico nesse contexto. Embora a escolaridade dos empreendedores negros tenha aumentado, continua abaixo do ideal, com 42,8% possuindo ensino médio completo em 2023. A diferença se acentua quando se observa o acesso ao ensino superior, em que os empreendedores brancos estão em posição mais favorável.
Empreendedorismo para mulheres negras
Entre obstáculos e conquistas, Tatiana Pires, 46, de sua jornada na política e causas sociais, encontrou um novo caminho no empreendedorismo. Atualmente ela se dedica ao Conexões 84 – uma startup que transforma negócios com impacto, por meio de consultorias, mentorias e palestras focadas em projetos de impacto para o setor público, empresas e sociedade civil.
A empresa foi criada em 2011, mas somente em 2023 que Tatiana reconhece ter focado mais em seu negócio, principalmente pelo apoio que recebeu do Sebrae-RN,por meio do projeto Quartzo, o qual participou no ano anterior. “Foi o divisor de águas na minha perspectiva de negócios”, considera.
Enquanto uma mulher negra, Tatiana entende que além de desenvolver habilidades e técnicas para lidar com os negócios, é exigido um preparo emocional. “Sei quem sou, uma mulher poderosa, que ocupou espaço, mas que todos os dias é testada pela sua capacidade nessa sociedade. Você tem que trabalhar sua mente para se colocar como a mulher poderosa, sem precisar ferir”, relata.
Também com uma veia empreendedora, Luara Almeida investiu em novos negócios desde cedo. Na adolescência, vendia doces para ajudar à família, mas após a conclusão do curso de Engenharia Química, pela Ufersa, percebeu que tinha habilidade para empreender e decidiu se dedicar a isto. Hoje ela é proprietária da Fri Cosméticos, empresa focada em cosméticos naturais, com produtos como sabonetes, condicionadores sólidos, shampoos sólidos e óleos essenciais.
Em 2022, também participou do programa Quartzo que “abriu sua mente” e a fez enxergar que poderia ocupar novos espaços. “Conheci outras empreendedoras pretas, com quem ainda troco experiências. Continuo afirmando que empreender não é fácil, no entanto, sei que persistir diante das dificuldades é um ato de resistência e resiliência — algo que as inúmeras mulheres da minha linhagem me ensinaram a ter. Desistir não é uma opção”, ressalta.
Iniciativas empreendedoras da diversidade
Para Elisete Lopes, gestora da Diversidade do Sebrae-RN, o crescimento do número de empreendedores negros no Brasil é um reflexo poderoso de uma mudança estrutural que está ocorrendo no país. Para ela, cada história de sucesso não é apenas uma conquista individual, mas também um avanço importante em direção à equidade econômica e social.
“Esse crescimento é significativo, pois demonstra que a população negra, historicamente marginalizada e com acesso limitado a recursos e oportunidades, tem se levantado com força para transformar realidades e criar novos espaços no mercado. É gratificante estarmos como instituição apoiando essa transformação”, ressalta.
Entre os diversos programas disponíveis no Sebrae-RN, abertos para todos que desejam aprimorar seu desempenho empreendedor, a instituição também dispõe de ações específicas para minorias, como, por exemplo, o Projeto Plural, uma iniciativa dedicada a apoiar e promover a inclusão de grupos sub-representados.
O significado do Dia da Consciência Negra
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, rememora a morte de Zumbi dos Palmares, líder emblemático da resistência contra a escravidão, assassinado em 1695. Instituído pela Lei n.º 12.519 em 2011, este feriado simboliza a luta histórica dos negros no Brasil e a busca por igualdade de direitos. A escolha da data foi reforçada durante o congresso do Movimento Negro Unificado, em 1978, destacando a importância de resgatar a figura de Zumbi como um ícone da resistência e um símbolo da luta contra o racismo.
Comemorar o Dia da Consciência Negra vai além de um feriado; é um momento de reflexão e conscientização sobre a luta contínua contra a discriminação racial. A data serve para lembrar a necessidade de políticas públicas que promovam inclusão social e valorizem a rica herança cultural afro-brasileira, essencial para a identidade nacional. Assim, a memória de Zumbi e a resistência dos negros devem ser sempre celebradas, impulsionando a busca por um Brasil mais justo e igualitário.
Foto: cedida