Planejamento de atividades e continuidade de terapias é fundamental
Família de férias é sinônimo de momento de estar junto, curtir bem os filhos, mas, para aquelas que convivem com autistas e outros neurodivergentes o ideal é não deixar de lado uma dica valiosa de especialistas no assunto. É fundamental planejar – entre passeios no campo ou na praia, organização das atividades diárias, nada de interromper a rotina terapêutica, para não deixar ir por água abaixo a evolução conquistada dia a dia, durante o ano todo!
Para Paula Chaves – Psicóloga e Gestora Técnica da Clínica Mundos, especializada em neurodivergência, o ponto de partida é considerar os gostos e as particularidades do seu filho. Locais de menor estimulação sensorial, como o campo, podem ser mais agradáveis para crianças sensíveis a ruídos ou agitação, enquanto a praia é uma ótima opção para quem se encanta com texturas diferentes, como a areia e a água do mar. “O segredo é avaliar previamente o ambiente e evitar condições estressantes, como superlotação”, explica.
Não é preciso desistir de arrumar malas e viajar por aí, mas a especialista faz algumas ponderações. “É comum que as pessoas autistas se apeguem à rotina, pois evita surpresas, ajudando a lidar com o mundo ao redor. Alterações podem gerar desconforto e até mesmo sobrecarga sensorial, levando até a crises. Por isso, ao planejar a viagem, é fundamental oferecer previsibilidade, fazer combinados com todos os envolvidos e incluir esses cuidados no planejamento, para garantir uma experiência mais agradável e memorável para a criança/adolescente e toda a família. Muito importante: a viagem pode ser enriquecedora para a interação social, mas é fundamental respeitar os limites da criança e estar preparado para adaptar as atividades das férias, se necessário”, orienta Paula Chaves.
Terapias e rotina: fundamentais mesmo nas férias
Um dos principais alertas dos profissionais de saúde é que o período de recesso não deve ser sinônimo de pausa na rotina terapêutica ou nas medicações. Manter o acompanhamento regular com terapeutas, como psicólogo, terapeuta ocupacional (TO) e fonoaudiólogo, é vital para a evolução e bem-estar. A interrupção pode gerar retrocessos significativos, tornando o retorno às rotinas escolares ou clínicas mais complicadas.
“O progresso terapêutico está diretamente ligado à constância. No entanto, as terapias podem ser adaptadas ao contexto das férias, como inserir brincadeiras orientadas no ambiente familiar”, exemplifica a especialista Paula Chaves, psicóloga da Clínica Mundos.
Quanto às medicações, essas não podem ser interrompidas, mas administradas conforme as recomendações médicas, mesmo em viagens ou durante passeios. Alterar doses ou pausar medicamentos por conta própria pode desencadear sintomas como agitação, irritabilidade e mudanças no apetite, prejudicando o tratamento e o que deveria ser diversão e lazer em família.

EM CASA
Atividades e brincadeiras: ajuste para a diversão
Na hora de planejar as brincadeiras, leve em consideração os interesses específicos e o nível de tolerância da criança/adolescente. Atividades ao ar livre são enriquecedoras, preferencialmente em ambientes com menos movimento. Brincar com texturas no campo ou na praia, explorar trilhas curtas, pintar, fazer construções na areia ou até mesmo realizar brincadeiras aquáticas supervisionadas são boas opções.
Evite ambientes excessivamente barulhentos ou cheios, que podem aumentar a sobrecarga sensorial. “Caso escolha visitar lugares movimentados, como parques e shopping centers, leve itens que auxiliem no alívio de um possível quadro de ansiedade/irritabilidade, como abafadores de ruído e/ou brinquedos favoritos. Respeite sempre sinais de cansaço ou incômodo”, lembra Paula Chaves.
Brincadeiras na água – o uso de piscinas ou o banho de mar requer atenção redobrada. Esses momentos devem sempre ser supervisionados por um adulto e preferencialmente em ambientes com menos movimento. O uso de coletes salva-vidas e equipamentos de segurança é essencial, assim como pausas frequentes para evitar cansaço. Também vale introduzir a brincadeira gradualmente, respeitando a reação inicial da criança, para evitar desconfortos ou crises.
Sinais de alerta: como evitar o agravamento dos quadros clínicos
Alguns fatores podem agravar o quadro clínico dos neurodivergentes durante as férias, como a mudança de rotina, alteração no padrão de sono, agitação extrema, perda do apetite, entre outros. Para minimizar riscos, algumas dicas:
- Previsibilidade: utilize fichas visuais (imagens) para o neurodivergente entender melhor a nova rotina.
- Estabeleça um horário regular para as refeições e o descanso.
- Planeje as atividades, garantindo intervalos para pausas.
- Carregue itens de conforto, como mantas ou brinquedos de apego, que transmitem segurança.
Manter o cuidado com esses detalhes ajuda a criar férias repletas de momentos felizes e tranquilos.
Sugestão de checklist:
- Escolha o destino certo: avalie se a praia ou o campo oferecem um ambiente tranquilo, com espaço para brincar e baixos níveis de estresse sensorial.
- Respeite os limites: observe sinais de cansaço ou desconforto e ajuste as atividades, conforme necessário.
- Adapte as terapias: continue com o acompanhamento regular e insira brincadeiras terapêuticas na rotina.
- Mantenha a medicação em dia: nunca altere ou pause medicamentos sem autorização médica.
- Tenha um plano B: previna-se para imprevistos, carregando itens de conforto e criando estratégias para lidar com crises.
- Invista em previsibilidade: explique o roteiro do dia e inclua o autista no planejamento para reduzir a ansiedade.
SAIBA MAIS:
A neurodiversidade refere-se às variações naturais no cérebro humano de cada indivíduo em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas. São exemplos de neurodivergências: o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Tourette, Síndrome de Rett, dislexia, dispraxia, epilepsia, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), transtorno bipolar, esquizofrenia, entre outras.
