Último chamamento do Conectar Cultural celebrou esperança e protagonismo dos fazedores de cultura do Recôncavo (BA)

Realizado ontem (12) em São Francisco do Conde, encontro recebeu fazedores para orientações de como participar da chamada pública. Foto: Sérgio Goes

O último encontro do Conectar Cultural, realizado ontem e hoje (13), em São Francisco do Conde, foi marcado por um sentimento coletivo de mudança e esperança entre os fazedores de cultura do Recôncavo. Mais que uma sequência de conversas, oficinas e escutas, o projeto deu luz a muitos agentes culturais que, historicamente, estavam à margem, revelando o que muitos ainda tinham dificuldade de enxergar: seu pertencimento à história cultural da região, seu valor, seu potencial transformador.

Com apoio do Instituto Neoenergia, a iniciativa realizou seis encontros em cidades do Recôncavo com o objetivo de impulsionar e valorizar a cultura local e reconhecer os atores e promotores da cultura da região. Durante o evento, representantes de manifestações culturais imateriais receberam orientações para preencher o formulário de inscrição e esclareceram dúvidas sobre a chamada pública que premiará cinco manifestações da região com R$ 500 mil, sendo R$ 100 mil para cada.

Durante os encontros, ficou evidente uma das principais barreiras enfrentadas pelos participantes: a dificuldade de informação sobre editais, políticas públicas e oportunidades culturais que, muitas vezes, não alcançam os agentes culturais, especialmente nas periferias, nas zonas rurais e nas comunidades tradicionais. Nesse contexto, o Conectar Cultural se firmou na região como um movimento coletivo por visibilidade, orientação e valorização, tornando-se um espaço de escuta, troca de saberes e formação cidadã.

A gestora do Conectar Cultural, Neusa Martins, destaca o quanto ainda é desafiador para muitos agentes culturais se reconhecerem como grupo organizado, como movimento legítimo e potente, capaz de acessar políticas públicas, disputar editais e ocupar espaços de visibilidade.

“O Conectar trouxe para muitos fazedores de cultura um sentimento de mudança e esperança, fazendo com que eles se enxerguem como agentes de transformação social, que deixam de estar à margem e passam a participar ativamente da construção cultural de suas comunidades. O projeto os faz sentir parte de um grupo que reconhece seu potencial para promover mudanças, especialmente para novas gerações, que às vezes estão em situações vulneráveis”, afirmou.

Neusa Martins afirma ainda que a força do projeto está na sua simplicidade e no diálogo direto com os fazedores de cultura. Ela destaca que, ao contrário dos editais tradicionais, o Conectar aposta em um processo acessível que promove escuta, orientação e preparo, devolvendo protagonismo a quem muitas vezes está à margem.

“Os editais geralmente chegam de cima para baixo, mas aqui tivemos a chance de divulgar um chamamento público que realmente escutou as pessoas, orientou na inscrição e criou um espaço de diálogo. Foi um processo simples, mas que fez toda a diferença”, completa.

Transformação – O encontro do Conectar Cultural em São Francisco do Conde teve um impacto positivo entre os fazedores de cultura locais, trazendo não apenas orientações práticas sobre elaboração de projetos, mas também promovendo uma escuta ativa e acolhedora. Para Ana Bispo, presidente da Associação Flor de Lótus e coordenadora de um coletivo de cultura, a metodologia prática e a linguagem acessível adotadas nas atividades foram fundamentais para ampliar o entendimento sobre elaboração de projetos culturais.

“O encontro foi muito proveitoso e esclarecedor, principalmente porque muita gente aqui tem pouca instrução para escrever projetos. A explanação de Neusa, com linguagem simples e prática, fez a gente se sentir preparado para preencher o formulário e refletir sobre como nossos projetos impactam a comunidade, principalmente em relação ao fomento do comércio local. Movimenta toda uma cadeia, desde a costureira até quem prepara o alimento. Agradeço muito à Neoenergia por essa oportunidade”, afirmou.

Para a cantora Isabel Nogueira, o evento representou a quebra de barreiras que a impedia de ter acesso aos editais e políticas públicas culturais. Com uma abordagem acolhedora e descomplicada, o projeto permitiu que os participantes voltassem a acreditar em seu potencial e vislumbrassem novas possibilidades de atuação e protagonismo cultural.

“Estar nesse encontro do Conectar Cultural foi incrível. Desmistificou aquele ‘monstro’ que eu imaginava ser o processo de realizar e escrever um projeto. Eu achava que era um bicho de sete cabeças e já tinha até desistido de participar de editais, porque estava muito desmotivada, mas hoje eu vislumbrei uma luz no fim do túnel. O Conectar mostrou que é possível para qualquer pessoa, mesmo com pouco estudo, sem tantas habilidades com a escrita ou a fala, participar ou fazer projetos”, comentou.

Sobre a premiação – O projeto destinará o total de R$500 mil para cinco manifestações culturais do Recôncavo, sendo R$100 mil cada. Ademais, os selecionados terão seus saberes registrados em uma publicação, que terá formato físico e digital, tradução em três idiomas e a proposta de se tornar referência acadêmica para pesquisas.

“O objetivo é impulsionar a valorização da cultura local. Nosso apoio reforça a importância do investimento social privado para ajudar a transformar a realidade dessas localidades por meio da arte e cultura”, afirma Renata Chagas, diretora-presidente do Instituto Neoenergia.

As manifestações culturais selecionadas vão poder destinar o dinheiro da premiação a manutenção ou reforma de espaços culturais e sedes de associações, aquisição de equipamentos, confecção ou recuperação de indumentárias, logística de apresentações, atividades formativas e oficinas de transmissão de saberes e fazeres tradicionais, contratação de profissionais como contador ou assessor jurídico para regularização documental e organização estrutural de registro da manifestação, entre outras.

O Conectar Cultural é apresentado pelo Ministério da Cultura e Instituto Neoenergia, com realização do Instituto São Paulo de Arte e Cultura e patrocínio da Neoenergia Coelba, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A iniciativa conta com apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT, por meio da FUNCEB, IPAC e CCPI, Superintendência do IPHAN na Bahia, UFBA, UFRB, UNEB, Fundação Hansen Bahia e Instituto Popular do Recôncavo.

Compartilhe o post:

VEJA MAIS NOTÍCIAS

Eficiência energética em data centers é tema em Fórum da Anatel

Daniel Gomes, CEO da Atlantic Data Centers, abordou oportunidades e gargalos que o setor enfrenta no Brasil. Foto: Divulgação Durante o Fórum...

No Recife, Casa da Cultura recebe encontro de desenhistas urbanos do movimento internacional Urban Sketchers este sábado

Artistas ou pessoas interessadas podem participar gratuitamente da ação. Fotos: Divulgação/ Ascom Secult-PE A Casa da Cultura Luiz Gonzaga, um dos maiores...

Salvador irá ganhar primeira escola de Samba Junino

A primeira capital do Brasil irá ganhar uma escola de Samba Junino com programas de formação e inclusão social através de oficinas...

plugins premium WordPress