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Músico é um dos homenageados no Arraiá da Casa Escola, que aposta no resgate da cultura popular e na valorização da identidade potiguar como elementos centrais do festejo
Em um cenário junino cada vez mais marcado por grandes atrações comerciais distantes das raízes populares, a Casa Escola, em Natal, propõe um olhar inverso. Com o tema “Entre papa-jerimuns, cantigas e forró: nossa festa potiguar”, o Arraiá da Casa aposta no resgate da cultura popular e na valorização da identidade potiguar, além de homenagear artistas locais, como Carlos Zens. O evento acontece nesta quarta-feira (18), às 17h.
De acordo com a diretora Priscila Griner, a iniciativa está diretamente ligada ao tema da escola em 2025 — Cenários Invisíveis. “Ao constatar a pouca valorização do que é ser potiguar, nosso desejo foi colher o que é da terra e beber da nossa cultura e história”, explica. “Os ‘papa-jerimuns’ representam um espírito criativo, resistente e cheio de humor, pouco reconhecidos em sua unidade e identidade própria”.
Segundo ela, mais do que uma celebração, o objetivo é promover um espaço de afirmação identitária e cultural. “É também uma oportunidade de experimentar a cultura como algo presente e pulsante, que não está só nos livros ou conteúdos, mas nas mãos daqueles que trançam a palha do milho, nos pés que se arrastam no forró, nas vozes que contam causos e na simbologia que enfeita a nossa festa”, destaca Priscila.
Um dos homenageados do Arraiá da Casa, o flautista, compositor e educador Carlos Zens comenta a iniciativa. “É maravilhoso saber que a Casa Escola mantém a filosofia de preservar uma cultura tão popular e tradicional do nosso povo, buscando ter um olhar para nossas raízes — não com apelo comercial, midiático, mas com referência aos nossos valores locais”, afirma.
A preparação para o evento, conforme explica a coordenadora da Educação Infantil, Rafaella Moura, envolveu pesquisas, oficinas e atividades com música, dança, culinária, histórias e outras referências regionais. “As crianças são protagonistas em todo esse processo. Desde o início, elas têm participado ativamente com suas ideias, curiosidades e produções”, ressalta.
Apagamento simbólico
Carlos Zens reforça a importância de iniciativas que valorizem os artistas e as expressões culturais do Rio Grande do Norte. “Nós, artistas que temos o compromisso com a educação e a formação de conteúdo voltado para a cultura de tradição do nosso estado, sabemos o quanto é importante sermos trabalhados em sala de aula. Então é muito gratificante fazer parte desse reconhecimento e dessa memória”, destaca.
Crítico ao modelo de grandes eventos que privilegiam repertórios midiáticos, o flautista enfatiza que falta aos gestores públicos o compromisso com uma política de valorização da cultura popular. “Acho que os gestores podem e deveriam desenvolver uma política de valorização e preservação do que é genuinamente nosso. Só assim sairemos dessa espetacularização do que vem de fora”, diz Carlos Zens.
“Caso contrário, vamos sempre ouvir dos meios de comunicação de massa que não temos cultura ou referência cultural”, completa o músico, comentando o apagamento simbólico da cultura potiguar em comparação com estados como Pernambuco e Paraíba, historicamente reconhecidos por suas tradições juninas.