Ana Garcia: “O Coquetel Molotov Negócios se tornou uma plataforma estratégica para que novos artistas possam apresentar seu trabalho”

Foto: Hannah Carvalho

Empreendedora anuncia chegada do festival à Paraíba em 2025 e fala sobre curadoria diversa, desafios e oportunidades no mercado da música independente

Com uma trajetória que mistura ousadia e um olhar aguçado para a diversidade musical, Ana Garcia se consolida como uma das vozes mais relevantes da produção cultural independente no Brasil. Criadora do festival No Ar Coquetel Molotov — que começou como um programa de rádio de estudantes e hoje ecoa em capitais como São Paulo, Salvador e, em breve, João Pessoa —, Ana transformou sua paixão por música em uma plataforma de descobertas e conexões. Seu currículo inclui desde a produção do Festival Virtuosi até prêmios internacionais, como o Women’s Music Event Awards, mas é na capacidade de identificar talentos e fomentar cenas locais que seu trabalho ganha contornos revolucionários.

Nesta entrevista , Ana Garcia fala sobre os desafios de expandir um festival multicêntrico, a importância de “chegar para somar” em novas cidades e como o Coquetel Molotov Negócios se tornou uma plataforma estratégica para que novos artistas possam apresentar seu trabalho a curadores, festivais, jornalistas e agentes do mercado, tanto locais quanto de fora. Ela também detalha os critérios de curadoria que garantem diversidade nos line-ups (com 50% de mulheres e espaço para LGBTQIA+, periferias e povos originários), compartilha histórias por trás da escolha da Paraíba para a edição de 2025 e reflete sobre o futuro dos festivais.

Como surgiu a ideia de criar o festival No Ar Coquetel Molotov e qual foi o principal objetivo inicial?

O Festival No Ar Coquetel Molotov nasceu de um programa de rádio homônimo, que continua no ar até hoje na Universitária FM (99.9). Eu e meus colegas éramos estudantes de jornalismo e queríamos ver de perto as bandas que amávamos, trazendo-as para um palco impactante. A inspiração veio dos meus pais, o maestro Rafael Garcia e a pianista Ana Lúcia Altino, que criaram o Festival Virtuosi e sempre trouxeram músicos do mundo inteiro.

Com a experiência que tive nos bastidores dos teatros, realizamos as primeiras 10 edições do festival em um teatro, criando uma atmosfera única. Muitas coincidências ajudaram a viabilizar a primeira edição, mas o principal ingrediente sempre foi a vontade de fazer acontecer! Às vezes, nem acredito que conseguimos isso com apenas 23 anos de idade. O objetivo inicial – e que seguimos mantendo até hoje – foi fomentar a cena independente local e nacional, fortalecendo a música alternativa no Brasil.

Quais foram os maiores desafios enfrentados ao expandir o festival para outras cidades e como você vê a chegada à Campina Grande e João Pessoa?

Expandir o Festival No Ar Coquetel Molotov para outras cidades é sempre um grande desafio, especialmente porque não vivemos o dia a dia desses lugares. Por isso, é essencial contar com uma curadoria e produção locais, além de muita pesquisa para entender a cena e dialogar com os agentes culturais da região.

Para as edições em Campina Grande e João Pessoa, temos a sorte de contar com mulheres incríveis na equipe, como Kaline Kissia, da Moleka 100 Vergonha, e a musicista e produtora Mari Santana, além dos produtores Claudia Aires e Rayan Lins. O maior desafio é justamente esse: mostrar que chegamos para somar, colaborando com a cidade e seus produtores, criando um impacto positivo em toda a cadeia produtiva.
A cena musical paraibana está vivendo um momento incrível, e essa é uma oportunidade única para destacá-la e conectá-la a curadores, jornalistas, distribuidoras e empresários de fora. Estou muito animada para essa edição e para tudo o que podemos construir juntos.

O Coquetel Molotov Negócios é apresentado como uma oportunidade para a cena independente. Quais histórias de artistas que passaram pelo festival e alcançaram destaque nacional/internacional mais te orgulham?

O Coquetel Molotov Negócios é uma plataforma estratégica para que novos artistas possam apresentar seu trabalho a curadores, festivais, jornalistas e agentes do mercado, tanto locais quanto de fora. É uma oportunidade valiosa para ampliar conexões e ter acesso a debates e oficinas que, infelizmente, ainda são mais comuns em conferências fora do Nordeste.

No entanto, o avanço na carreira depende muito do próprio artista. Ele precisa saber aproveitar esse ambiente para fazer networking e fortalecer sua presença no mercado. Já tivemos casos inspiradores de artistas que passaram pelo Negócios e logo em seguida conquistaram novos mercados, como Luiz Lins, Duquesa e Taj Ma House, entre outros. Ver esses talentos ganhando espaço e crescendo profissionalmente é algo que nos orgulha muito.

Além dos pitchings e workshops, o Coquetel Molotov Negócios oferece prêmios transformadores. Como essas oportunidades mudam a trajetória dos artistas selecionados?

Na última edição do Coquetel Molotov Negócios em Recife, introduzimos prêmios transformadores, como residência no Centro Cultural DoSol (Natal) e gravação na ONErpm (SP), e isso aconteceu de uma forma curiosa. Um músico comentou online sobre como os pitchings, muitas vezes, não geram resultados concretos — o que me fez refletir sobre como poderíamos elevar ainda mais o impacto do projeto. Foi daí que surgiu a ideia de garantir oportunidades diretas para alguns participantes. Além dessas premiações, artistas que passaram pelo Negócios também conseguiram vagas em festivais, gravações em programas de rádio e até participação nos pitchings do WME. Tudo isso depende muito dos “compradores” presentes e do próprio envolvimento do artista.

Para a edição de João Pessoa, estamos avaliando quais novas oportunidades podemos oferecer, sempre alinhadas com as demandas do mercado e os parceiros envolvidos.

A convocatória gratuita para pitchings busca talentos autorais em crescimento. Como esse processo seletivo funciona e quais critérios são usados para escolher os artistas que farão showcases em João Pessoa?

A convocatória gratuita para os pitchings busca destacar talentos autorais em ascensão, proporcionando uma vitrine para artistas que já possuem um material sólido, mas que ainda estão em fase de consolidação no mercado. O ideal é que os selecionados já tenham ao menos um disco gravado e alguma experiência em apresentações ao vivo, mesmo que com poucas turnês.

O processo seletivo segue premissas que norteiam a curadoria do Coquetel Molotov Negócios, garantindo diversidade e representatividade. Buscamos um equilíbrio entre gêneros musicais — do indie rock à MPB, rap, trap, música popular e eletrônico — e também nos comprometemos com critérios de inclusão, assegurando que pelo menos 50% dos artistas selecionados sejam mulheres, além de abrir espaço para vozes da periferia, LGBTQIA+, indígenas e outras representatividades.

A ideia é que os showcases em João Pessoa reflitam a riqueza e pluralidade da cena independente, criando conexões reais entre artistas e profissionais da indústria.

 O que motivou a escolha da Paraíba para a edição de 2025 do Coquetel Molotov Negócios e como será a programação?

A escolha da Paraíba para a edição de 2025 do Coquetel Molotov Negócios aconteceu de forma inesperada, mas muito especial. A empresa AeC buscava apoiar projetos culturais aprovados via Lei Rouanet (Artigo 18), com a condição de serem realizados nessas cidades. Para a edição de Campina Grande, houve um pedido específico para incluir um olhar especial sobre as quadrilhas juninas, e tivemos a liberdade de adaptar o projeto para que tudo fizesse sentido dentro desse novo contexto.

Mas minha conexão com a Paraíba vem de muito antes. Minha mãe, Ana Lúcia Altino, foi fundadora do Departamento de Música da UFPB, e tanto ela quanto meu pai, Rafael Garcia, tiveram um papel fundamental na Orquestra Sinfônica da Paraíba. Passei parte da minha vida em João Pessoa, e essa relação afetiva sempre existiu. Voltar agora com um projeto como o Coquetel Molotov Negócios tem sido uma experiência incrível, uma forma de revisitar essa história enquanto impulsionamos a cena musical local.

Como você vê o futuro dos festivais de música independente no Brasil, especialmente em um cenário de constantes mudanças tecnológicas e culturais, e qual o papel de iniciativas como o Coquetel Molotov Negócios nesse contexto?

Os festivais de música independente no Brasil enfrentam um momento desafiador, especialmente no Nordeste, onde o apoio de iniciativas privadas ainda é muito limitado. Em 2023, o Coquetel Molotov foi o único festival independente realizado no segundo semestre em Pernambuco, o que reflete bem essa realidade. Após o boom dos festivais no período pós-pandemia, estamos agora passando por um período de ajuste, e acredito que ainda levará pelo menos dois anos para retomarmos o ritmo que tínhamos antes.

Por outro lado, os festivais que conseguiram se adaptar e reinventar foram os que possuem um propósito claro. E é nesse cenário que iniciativas como o Coquetel Molotov Negócios se tornam essenciais: são espaços para troca de experiências, debates e aprendizado coletivo. Com a correria do dia a dia, temos cada vez menos oportunidades para parar, refletir e discutir os desafios e caminhos do setor. Criar esses momentos de conexão e diálogo é fundamental para fortalecer a cena e encontrar novas soluções para o futuro.

Qual conselho você daria para jovens produtores culturais que desejam criar projetos inovadores e impactantes como o No Ar Coquetel Molotov.

Meu conselho é: faça o que você ama, isso é o mais importante. Não tenha medo de começar pequeno — é melhor realizar algo menor, mas com impacto real, do que tentar algo grandioso sem estrutura. Antes de tudo, analise seu foco: o que seu projeto traz de diferente para sua cidade e para o mercado? Além disso, lembre-se de que ninguém faz nada sozinho. Construa sua rede de trabalho e apoio, pois são essas conexões que vão ajudar seu projeto a crescer e se fortalecer.

Fonte: Assessoria de imprensa

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