Participantes produziram, no Caju Conecta, em Mossoró, empadas e coxinhas com material do pedúnculo, diversificando potencial e evitando desperdício, que chega a 90%
Amplamente conhecido no Brasil pela produção da amêndoa, de sucos e doces, o caju, fruta nativa do território brasileiro, também desponta como alternativa viável à substituição da proteína animal no preparo de alimentos, através do beneficiamento do pedúnculo em fibra de caju. É o que revela oficina gastronômica realizada em Mossoró na última quarta-feira (30), por meio de parceria firmada entre a Embrapa Agroindústria Tropical e o Sebrae no Rio Grande do Norte. O evento, realizado no Senac local, capacitou grupo que aposta na utilização da matéria-prima para diversificar a cajucultura e gerar renda.
Durante a oficina, os participantes produziram empadas e coxinhas recheadas com fibra de caju, além do pão fabricado com o suco da fruta. Mas, segundo a chef e empresária paraibana Maiara Souza, que conduziu a capacitação, o potencial do produto vai além.
“Já testamos mais de 20 produtos, fazendo a substituição da proteína animal pela fibra de caju e os resultados são excelentes. Isso mostra o quão elevado é o potencial desse produto e o quanto pode contribuir para a sustentabilidade da cajucultura”, detalha.
Aproveitamento
Além de alternativa saudável à produção de alimentos, a utilização da fibra de caju, se disseminada entre os produtores de caju, surge como medida eficaz no combate ao desperdício do pedúnculo (parte suculenta do caju). Segundo estimativas da Embrapa, cerca de 90% do pedúnculo produzido é descartado.
Monalisa Azevedo e outras nove mulheres que já trabalham com o beneficiamento do caju no município de Serra do Mel participaram da oficina e aproveitaram para conhecer novas técnicas de fabricação de alimentos à base da fibra de caju. O grupo pretende aplicar os novos conhecimentos na produção dos salgados para conquistar renda extra.
“A gente faz um trabalho com a fibra de caju, produzindo alguns produtos e agora vamos produzir muitos outros, porque lá em Serra do Mel, temos muita matéria-prima, que na maioria é desperdiçada, e agora vamos poder aproveitar mais, e comercializar os alimentos”, explica.
Inovação
O aproveitamento da fibra de caju é possível graças à tecnologia desenvolvida pela Embrapa, que transforma os resíduos da agroindústria de sucos e polpas, por exemplo, em uma espécie de coproduto, reconhecido pelo elevado teor de fibras, que gira em torno de 60%.
Aline Teixeira, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindústria Tropical, explica que o desenvolvimento da fibra de caju tem por objetivo fortalecer a cajucultura, por meio da ampliação do acesso à tecnologia e alcance de um número elevado de pessoas.
“A partir do momento que você mostra a versatilidade desse fruto, você consegue aumentar o interesse do produtor e mostrar para ele que ele consegue rentabilizar mais a produção dele de caju, focando não só na castanha, mas, também no pedúnculo”, ressalta.
Diversificação
O Sebrae RN apoia a realização da oficina gastronômica. Conforme o gerente da Agência Sebrae Oeste, Paulo Miranda, a ideia é estimular a diversificação e agregação de valor para os produtos resultantes da cajucultura.
“A atividade oferece uma gama muito ampla de possibilidades, com potenciais elevados da utilização do Caju em diversos preparos, e é isso que queremos fomentar entre os produtores”, observa.
A oficina gastronômica integrou a programação da segunda edição do Caju Conecta. O evento, encerrado ontem (31), teve início na terça-feira (29), em Mossoró, e discutiu os rumos da cajucultura nacional, dom realização de palestras, mesas-redondas e visitas técnicas.
Foto: Allan Phablo