Seminário de Turismo Rural no RuralTur discute como patrimônios geológicos estão transformando o turismo e impulsionando o desenvolvimento no interior nordestino

A diversificação dos atrativos turísticos nos estados nordestinos para além do sol e mar tem sido uma discussão antiga. Nesse contexto, os geoparques Araripe, no Ceará, e Seridó, no Rio Grande do Norte, têm demonstrado como a valorização de patrimônios geológicos pode estimular a interiorização do turismo no Brasil. Ao atrair visitantes para regiões afastadas dos grandes centros urbanos, essas iniciativas impulsionam o desenvolvimento econômico e geram novas oportunidades de negócios no interior.

O assunto foi destaque nas discussões do Seminário de Turismo Rural – Encontro Geoparque Seridó, que apresentou práticas do segmento e dados sobre investimentos no empreendedorismo rural. Para Solange Portela, secretária de Turismo do Rio Grande do Norte, o Geoparque Seridó é uma ferramenta para promover o conhecimento de outros atrativos localizados no interior do estado.

“Dessa forma, trazemos um olhar para o turismo regional, que incrementa o setor como um todo e pode gerar ocupação ao longo de todo o ano. Nesse sentido, precisamos criar diferenciais e desenvolver produtos personalizados, como as soluções de turismo de base comunitária”, afirmou Solange. Para ela, uma governança fortalecida é o grande diferencial para o desenvolvimento sustentável da região.

O Geoparque Seridó se destaca pela diversificação das opções de lazer e pela promoção da preservação ambiental. Com o apoio do Sebrae e de parcerias público-privadas, a região tem investido em infraestrutura turística e capacitação de profissionais locais, o que fomenta a economia em municípios distantes das capitais.

Reconhecido pela UNESCO desde 2020, o Geoparque Seridó abrange seis municípios: Currais Novos, Parelhas, Lagoa Nova, Cerro Corá, Acari e Carnaúba dos Dantas. São aproximadamente 2.800 km², onde vivem cerca de 120 mil habitantes.

De acordo com Marcos Nascimento, coordenador do Comitê Científico do Geoparque Seridó, as transformações já são visíveis. Na cidade de Cerro Corá, antes do geoparque, havia apenas uma pousada e um bar/restaurante. Hoje, o município conta com oito pousadas e sete bares ou restaurantes. Em Lagoa Nova, o número de leitos passou de cerca de 150 para mais de 400 nos últimos anos.

Para João Hélio Cavalcanti, diretor técnico do Sebrae-RN, o compromisso com o turismo rural e o desenvolvimento sustentável é essencial. “Tratar um tema como esse exige seriedade e comprometimento com cada equipamento e iniciativa sustentável. Nosso futuro depende disso. Se cada empreendedor somar esforços, podemos transformar a realidade dos negócios. Nosso compromisso no Sebrae é exatamente nesse sentido”, reforçou.

Outro exemplo é o Geopark Araripe, localizado na região do Cariri, no Ceará, reconhecido pela UNESCO como o primeiro geoparque das Américas em 2006. O território abrange 3.779 quilômetros quadrados e inclui seis dos principais municípios da região: Missão Velha, Barbalha, Juazeiro do Norte, Santana do Cariri, Nova Olinda e Crato. Atualmente, o geoparque trabalha com 11 geossítios prioritários, mesmo contando com mais de 50 pontos de visitação. A escolha desses locais busca preparar os sítios de interesse para gerar maior impacto social e minimizar os impactos ambientais.

Sobre o impacto do geoparque na interiorização do turismo, alguns dados ressaltam essa transformação, como explica Rafael Soares, coordenador científico do Araripe. Juazeiro do Norte, por exemplo, atrai mais de 2 milhões de visitantes anualmente, um público que inicialmente se concentrava no turismo religioso, mas que agora também busca as atrações do geoparque. Além dos roteiros religiosos, muitos romeiros se interessam por atividades de ecoturismo, como visitas às fontes, à Chapada do Araripe e ao Museu de Paleontologia, considerado o carro-chefe do geoparque.

Durante o RuralTur, foi destacada uma iniciativa inovadora do geoparque: os chamados “museus de território”. Esses museus são espaços vivos, sem paredes, integrados às comunidades locais e ao circuito comunitário. Eles possibilitam o desenvolvimento de estratégias de ecoturismo e turismo de aventura, como a prática de rapel, sempre com a participação ativa das comunidades. “O turismo de base comunitária é fundamental nesse processo, pois as comunidades oferecem serviços como hospedagem, alimentação e transporte para os visitantes”, explicou Soares.

“Assim como no Geoparque Seridó, o Geopark Araripe promove a interiorização do turismo e diversifica a oferta além do tradicional turismo de sol e praia. O geoturismo combina ciência e cultura, dinamizando segmentos como turismo comunitário, criativo, rural, esportivo e de aventura”, concluiu Soares.

A 20ª edição da RuralTur, Feira Nacional de Turismo Rural, acontece de 21 a 23 de novembro, na cidade de Currais Novos, no Largo do Coreto O Guarani, em um espaço de 6 mil m². O evento, que reúne mais de 4 mil pessoas, conta com 50 estandes e expositores de 8 estados brasileiros. Realizado pelo Sebrae-RN, em parceria com o Governo do RN e a Prefeitura de Currais Novos, a feira está consolidada como referência no setor, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento econômico e sustentável das áreas rurais por meio de uma programação rica e diversificada.

Foto: Isaac Silva