Obra é uma das primeiras HQs, no Brasil, a ter trechos no idioma Yorubá, e conta com uma versão internacional, publicada pela editora Abram Books, nos EUA
A série “Contos dos Orixás” adapta a mitologia e as tradições orais afro-brasileiras, buscando levar para os leitores jovens e adultos as narrativas de matrizes africanas acerca das divindades e heróis ancestrais. Esse projeto surgiu a partir da convergência entre duas paixões do autor baiano Hugo Canuto. A primeira, pelo legado das culturas que moldaram a terra de origem dele, a Bahia, com suas tradições ancestrais representadas no livro pelas histórias das divindades e povos provenientes dos atuais Benin e Nigéria, países na região Oeste do continente africano.
Seu vasto patrimônio filosófico, espiritual e político alcançou países como Brasil e Cuba como consequência da terrível diáspora, manifestando-se na língua, cultura e nas artes visuais, música, e a literatura, produzindo obras inspiradas pelos orixás, arquétipos milenares de força, coragem, sabedoria e beleza.
A segunda, pelas Histórias em Quadrinhos, linguagem global construída a partir da união entre texto e imagem, capaz de produzir verdadeiros mitos modernos, atualizando símbolos e expandindo as possibilidades de contar histórias, um dos atos que, segundo Hugo Canuto, definem cada pessoa como humanidade desde que os primeiros homens e mulheres se reuniram ao redor do fogo, nas noites do tempo.
Ao reunir os dois universos e após dois anos de trabalho, Canuto criou o primeiro livro, que atravessou fronteiras e alcançou leitores de diferentes origens e lugares, despertando o interesse para conhecerem mais sobre os Itan, as narrativas e mitos ligados aos orixás, cuja essência possui a mesma relevância cultural da Ilíada, Odisséia ou a epopeia indiana Mahabarata, ao abordarem temas universais como o destino, a família, o amor e a guerra.
O primeiro volume da série foi publicado em 2019, de maneira independente através da plataforma Catarse, e reimpressa em quatro campanhas de financiamento coletivo, tornando-se sucesso de público e crítica. Parte dos exemplares impressos são doados para instituições culturais, terreiros, bibliotecas comunitárias e subsidiados para professores, buscando atender as diretrizes da lei 10.639 que busca promover a história e cultura dos povos africanos e indígenas no Brasil.
A obra foi vencedora do prêmio Glyph comic Awards, nos EUA, como história do ano e melhor desenhista, além do Angelo Agostini como melhor lançamento e do Troféu Abébé de Prata, uma das obras finalistas selecionadas ao prêmio Jabuti, o mais prestigiado do Brasil, na categoria Histórias em Quadrinhos.
Cada edição traz uma história completa, inspirada nos “itan”, os contos tradicionais de base oral que narra a trajetória mítica das divindades e ancestrais, rememorada através dos ritos, da dança, dos alimentos e da indumentária, seja no Brasil, em Cuba e na África Ocidental, através do Candomblé e suas nações, da Umbanda, da Santeria. Tal herança também está presente na pintura de Carybé, nos tecidos de Alberto Pitta ou na música de Maria Bethânia, representando na arte a herança afro-brasileira, fundamental na formação da nossa identidade coletiva.
Contos dos Orixás também é uma das primeiras HQs, no Brasil, a ter trechos no idioma Yorubá, com um glossário trazendo a grafia de termos, locais e personagens, aproximando o leitor de uma língua falada por 50 milhões de pessoas no continente africano e no mundo. Lembrando que esta edição da obra também tem uma versão internacional, publicada pela editora Abram Books, nos EUA.
Hoje, as artes e a HQ são utilizados nas salas de aula como instrumento de educação, estão no acervo de instituições como o Smithsonian National Museum of African American History and Culture, em Washington, EUA ganhou sua versão em inglês pela editora Abrams.
No entanto, o mais importante é o fato de o livro e as artes estarem presentes nas casas, terreiros e principalmente no coração do público, servindo ao seu maior propósito – ser instrumento de arte, reflexão e transformação de percepções sobre o grande legado das civilizações africanas e sua descendência na formação histórica, cultural e espiritual do povo brasileiro.
E agora a boa notícia é que este livro será lançado amanhã (26), aqui no Recife, como parte da programação do Projeto PEBA (conexão artística dos dois estados: Pernambuco e Bahia). O lançamento será a partir das 18h, no auditório da Caixa Cultural, onde haverá uma roda de conversa sobre Quadrinhos e Negritude no Brasil entre o autor baiano Hugo Canuto e o escritor pernambucano Eron Villar. Logo depois, haverá os autógrafos da Obra “Contos dos Orixás – O Rei do Fogo”.